Sábado da I semana da Quaresma
«
Mas Deus manifesta a sua caridade para conosco, porque, quando ainda éramos pecadores, no tempo oportuno, morreu Cristo por nós.» (Rm 5, 8)
I. — Cristo morreu pelos ímpios. E isto é grande, se considerarmos quem é aquele que morreu; também é grande, se considerarmos por quem foi que Cristo morreu. Ora, «
é difícil haver quem morra por um justo» (Rm 5, 7), ou seja, é difícil encontrar quem morra para salvar um homem justo; e até, como diz Isaías: «
o justo perece, e não há quem considere sobre isto no seu coração» (57, 1). E por isso, «
é difícil haver quem morra por um justo». Pois se alguém, isto é, alguma rara exceção, ousar, pelo zelo da virtude, morrer por um bom homem, será coisa realmente rara; e isso, por ser um feito muito elevado, como diz S. João (15, 13): «
Ninguém tem maior amor que o daquele que dá a vida por seus amigos». Porém, morrer por homens ímpios e maus, é algo que jamais ocorre. E por isto devemos, com razão, nos admirar, pois foi isto que Cristo fez.
II. — Se procurarmos saber porque Cristo morreu pelos ímpios, a resposta é que, por sua morte, Deus manifestou sua caridade para conosco, ou seja, sua morte mostra que Ele nos ama infinitamente, porque, «
quando ainda éramos pecadores», Cristo morreu por nós.
E a mesma morte de Cristo mostra a caridade de Deus para conosco, pois entregou seu próprio Filho para que, morrendo, satisfizesse por nós. «
Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito» (Jo 3, 16).
E, desse modo, assim como a caridade de Deus Pai para conosco se demonstra por ter nos dado o seu Espírito, assim também se demonstra por ter nos dado o seu Filho.
Quando S. Paulo diz que Deus «
manifesta a sua caridade para conosco», assinala a imensidade do amor divino, pelo fato de ter entregue seu Filho para morrer por nós; e, em seguida, por nossa condição; pois Deus não o fez por causa de nossos méritos, mas «
quando ainda éramos pecadores», como diz S. Paulo na Epístola aos Efésios (2, 4): «
Mas Deus, que é rico em misericórdia, pela sua extrema caridade, com que nos amou, estando nós mortos pelos pecados, convivificou-nos em Cristo». In Rom., V.
III. — Nessas coisas, mal se pode crer. Diz a Escritura: «
acontecerá uma coisa em vossos dias, que ninguém acreditará, quando for contada.» (Hab 1, 5). Pois que Cristo tenha morrido por nós, é algo de surpreendente, algo que mal se pode conceber. E é isto o que diz o Apóstolo, «
faço uma obra em vossos dias, uma obra que vós não crereis, se alguém vo-la contar.» (At 13, 41)
Tamanha é a graça de Deus e seu amor para conosco, que Ele fez por nós mais do que podemos compreender ou conceber.
In Symb.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
Fonte:
Permanência