por Percival Puggina em 12 de março de 2007
A transformação de uma lagarta em borboleta é de exemplar riqueza poética e estética. A lagarta é feia, a borboleta bonita; a lagarta se arrasta sobre o próprio ventre, a borboleta adeja livre; a lagarta se esconde, a borboleta domina o cenário com sua irrequieta presença.
Mas a lagarta e a borboleta não têm escolha: aquela não pode deixar de evoluir; esta não pode regredir. Já o homem e a mulher nascem como obras-primas do Criador, mas têm a faculdade de eleger para si mesmos o destino das lagartas. E creio que nunca como nestes tempos tais escolhas se fizeram de modo tão radical; jamais, para inteiro descrédito da borboleta, se exaltou tanto a lagarta que existe em nós!
A virtude é varrida para baixo dos tapetes e as degradações exibidas no alto dos telhados. Dezenas de milhões de espectadores se aferram às telinhas para assistir (e alguns pagam para fazer isso em tempo integral) a fatuidade e a inutilidade de um grupo de abobados fazendo e dizendo nada que preste, numa prisão de luxo. É a notoriedade das lagartas. A droga é outra das muitas faces dessa metamorfose às avessas. Traficantes sentam-se no Congresso Nacional; os “chapados” da Zona Sul carioca elegem e reelegem deputado o seu verde Gabeira. Bandas de roque levam multidões de jovens ao delírio com sua histeria, berrando letras que são um réquiem à caretice das borboletas. Há alguns anos chegamos ao absurdo de um fabricante de roupas espalhar outdoors informando que seus jeans custavam menos do que três gramas de cocaína e agitavam muito mais.
... continua em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5636&language=pt
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