VIVA A DITADURA
Juremir Machado da Silva
Quero a volta da ditadura militar. Já! Pelo bem do Brasil. Ficamos mais burros com a democracia. Apresento os meus argumentos. Mino Carta, por exemplo, é um perfeito idiota ítalo-brasileiro que já foi considerado um gênio do jornalismo nos 'anos de chumbo'. Hoje, dirige uma revista cuja única qualidade é ser chapa-branca, o que permite aos petistas empedernidos considerá-la independente, isenta, objetiva e neutra. Carta Capital é a Veja da esquerda. Millôr Fernandes é um gênio que se tornou idiota. No tempo dos milicos, Millôr detonava, arrasava e cuspia uma frase inteligente atrás da outra. Na Veja atual, até a carta ao leitor consegue ser mais divertida que ele. O Brasil está cheio de gênios que viraram idiotas passada a ditadura.
O caso mais notório é o do compositor Chico Buarque. O rapaz era uma máquina de produzir metáforas brilhantes que deixavam os generais em ponto de bala e as mulheres nuas. Parece que a mais devastadora era de uma genialidade singela incomparável: 'Você não gosta de mim, mas a sua filha gosta'. Terminada a ditadura, Chico Buarque só conseguiu fazer 'Estorvo', 'Benjamin' e 'Budapeste', uma rentável trilogia do vazio. Claro que com muito sucesso, num caso típico de transferência de capital (simbólico) de uma rubrica para outra. Mas tem pior. Na época em que o pau comia, houve uma turma que criou o Pasquim, um monumento à irreverência. Restabelecida a democracia, o melhor que o pessoal conseguiu foi elaborar uma revista chamada Bundas, cujo maior feito consistiu em ser uma Caras com um pouco menos de criatividade e um pouco mais de chatice. Não é pouco.
O teatro brasileiro morreu depois da ditadura. O cinema virou televisão de péssima qualidade. Pensando bem, nisso avançamos bastante. A música virou funk e pagode. As nossas imagens estão cada vez melhores: 'Abre as pernas e senta no meio dela...'. O pós-ditadura enterrou o Brasil na 'midiocridade'. Fernando Gabeira chegou a profetizar o 'crepúsculo do macho'. Agora, comporta-se como um simples macho no crepúsculo. Até o atual presidente da República fazia e acontecia no apagar das poucas luzes ditatoriais. O povo não é bobo. O povo não se engana. Elegeu com fartura de votos o único agitador que continua muito criativo depois do regime militar: Clodovil. A ditadura é a única saída para os nossos artistas. Nela, o ministro Gilberto Gil era apenas um jovem cantor e compositor genial.
Coluna Nosso Colaborador
Correio do Povo de 28 de março de 2007.
Juremir Machado da Silva
jornalista e escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário